segunda-feira, 11 de agosto de 2014

NA ESCOLA SEM APRENDER A LER!


ISSO PODE ACONTECER?



Por Sandra Bozza*


“(...) não é a aquisição do sistema de escrita em si que desenvolve o intelecto, mas seu uso em uma multiplicidade de funções. A escrita afeta a nossa maneira de pensar nos processos de leitura, na interpretação, na discussão e na produção de textos.”
Liliana Tolchinsky Landsmann
Cá estamos nós, em 2014, num processo de requentamento do tema referente à aprendizagem e ao ensino da leitura no Brasil.
A despeito dos exames nacionais e locais, da formação continuada dos educadores, do desenvolvimento de projetos relacionados à literatura e à contação de histórias, bem como das verbas destinadas à melhoria do ensino e para o aumento do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), o desempenho leitor de nossos alunos ainda está aquém do desejado. Os últimos resultados do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) servem como uma Ressonância Magnética, onde fica evidente, detalhadamente, a distância entre o que se necessita realizar nessa área do ensino o que se faz hoje na escola.
Não é o primeiro resultado do PISA que nos move a elucubrar sobre o não desenvolvimento de habilidades e competências leitoras de nossos brasileirinhos. Desde o primeiro ano dessa avaliação externa estamos nos mantendo, proporcionalmente, nos mesmos patamares! Ou seja, quase metade (49,2%) dos alunos brasileiros (com 15 anos, independente do ano escolar em curso) não chega a alcançar o nível 2 de desempenho. Isso significa que esses adolescentes não demonstram capacidade de deduzir informações de um texto lido, não estabelecem relações (de dependência como causa e efeito, equivalência, comparação) entre as partes desse texto e não conseguem estabelecer relações com experiências pessoais ou informações externas ao próprio texto. 
Todavia, seria interessante que pudéssemos nos ater no aspecto relacional dessa “pouca aprendizagem” de leitura que vem se evidenciado há tempos em nosso país.
Se muitos esforços estão sendo envidados para que a escola torne-se cada vez mais competente nessa mediação, por que os alunos não se apropriam, de fato, desses saberes?
Por que, apesar dos trabalhos propostos com livros paradidáticos e literários, as aulas de Língua Portuguesa, principalmente, do segundo segmento do Ensino Fundamental (do 5º ao 9º ano) e do Ensino Médio afastam tanto o aluno da leitura e inclusive aqueles que se mostraram bons leitores na Educação Infantil e nos anos iniciais deixam de sentir a leitura como uma atividade prazerosa?
Por que alguns dos livros didáticos (e manuais ou apostilas) ainda apresentam separadamente a parte da leitura, vocabulário, interpretação, gramática e ortografia?
A resposta pode ser dada por milhares de professores que têm uma prática ativa de leitura com seus alunos! Alguns municípios do Brasil conseguiram construir um lastro de conhecimentos básicos bastante interessantes sobre a leitura, o ensino e o aprender a ler. Essa base poderia ser sintetizada nas palavras de Jean Foucambert, quando afirmou em 1976, na França: [...] atividades em torno do texto e de incitação à leitura ocorrerão com regularidade. Pois, ainda uma vez, aprender a ler é ler, é ter a possibilidade de ler, no tempo em que passa na escola.
Isso ocorre quando a escola concebe-se como poderosa fonte de conscientização sobre o valor social da leitura, enfatizando, à comunidade, seus usos e sua capital importância. Dessa forma, assume para si duas tarefas fundamentais: imbuir-se de argumentos para conquistar leitores e organizar-se metodologicamente para práticas interessantes, procedentes e estimulantes. Porque, como quer Mempo Giardinelli, o que se busca é semear o desejo de ler e estimular todas as práticas de leitura.
 Ler e escrever se aprende lendo, escrevendo e pensando sobre a língua escrita. Assim, utilizar a leitura e a escrita para interação social dos alunos, dentro e fora da escola, física ou virtualmente, é o ponto de partida e de chegada para o desenvolvimento das competências linguísticas. Mais do que isso: alunos e alunas que vivenciam essas práticas, além de ampliarem as capacidades superiores do cérebro (atenção voluntária, generalização, memória, abstração), encontram no ambiente escolar um espaço onde têm garantidas sua vez e sua voz. Dificilmente desenvolverão aversão pelas aulas e Língua Portuguesa ou à leitura, pois estarão sendo formados por outros parâmetros de sociabilidade, respeito e acesso ao mundo real e não apenas por textos acadêmicos ou escolares. Dificilmente terão dificuldade de responder às questões colocadas na Prova Brasil, SAEB ou qualquer exame externo, porque a essas pessoas foi dada a possibilidade de aprender concomitantemente a relação de dependência entre significado e código, ou seja, a importância de conseguir   a ideia que se faz de algo e o modo como ela é expressa!
Se ler é depreender o sentido (significado) do texto, esse sentido é dado graças a um conjunto de códigos. São os conteúdos de Língua Portuguesa (unidade temática, paragrafação, coesão, argumentação...), bem empregados e articulados, que possibilitarão a compreensão global e das partes dos textos que circulam socialmente. A forma como é encaminhada a reflexão sobre mesmos é o ponto nevrálgico da aprendizagem da leitura, pois essa prática tanto pode priorizar a classificação ou auxiliar a compreensão do tema a partir das estruturas linguísticas.
Muitas vezes, o eixo uso-reflexão-uso, orientado nas Diretrizes Nacionais para ensino do português como língua materna há mais de dez anos, não é garantido na sistematização dessa área e, em muitos casos, os alunos, quando não percebem a funcionalidade do que aprendem, se evadem da sala de aula. E essa evasão pode se dar nos dois sentidos: no literal, quando abandonam fisicamente os bancos escolares (o que hoje já é formalmente controlado) e no sentido metafórico, quando seus pensamentos, desejos e saberes, mentalmente, fogem do tempo de aula. São esses, os evadidos, que socialmente poderão se tornar sujeitos alienados, individualistas e, sobretudo, não terão a competência de compreender a complexidade de uma sociedade organizada e legalizada pela linguagem escrita.
O que cabe á escola é colocar o aluno em estado de letramento em seus primeiro anos de escolaridade, de modo que ele, desde muito cedo, perceba a importância desse conhecimento e as possibilidades que pode ter um leitor competente e deseje se apropriar dessa forma complexa e sofisticada de linguagem que é escrita.

* Saiba mais sobre a linguista, filósofa, psicóloga, socióloga e escritora Sandra Bozza

Professora de Metodologia de Ensino da Língua Portuguesa, de Literatura Infantil, de Linguística e de Metodologia de Ensino de Alfabetização e Letramento, em 1991, fez parte do grupo que produziu a Proposta de Alfabetização para o Currículo Básico de Curitiba. Foi considerada pelo MEC como uma das cinco propostas mais avançadas do País, e que anos mais tarde serviu de base referencial para os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa e para a Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9394/96), na questão de avaliação de Língua Portuguesa. Entre seus livros lançados mais relevantes estão: Na escola sem aprender? Isso não!; Avaliação e aprendizagem: entre o pensar e o fazer; Língua Portuguesa a Partir do Texto (4 Volumes) e Coleção Trabalhando com a Palavra Viva (2 Volumes).

domingo, 15 de junho de 2014

REINOS DA COMUNICAÇÃO

 DOIS REIS E SEUS SÚDITOS



Por Leo Ricino*



            Insisto em dizer que as palavras, as letras e os números escritos são as três maiores e insuperáveis invenções da Humanidade.  No caso das letras, por possibilitarem a visualização gráfica das palavras, nos deram o advento da História, através do registro escrito dos acontecimentos ao longo do percurso de nossa espécie. (Gostaria de observar que até o advento das letras, as palavras só eram ouvidas ou representadas por pinturas ou outras formas. Veja na CPLP nº 40 o artigo "Você também acredita em milagres", no qual exponho o ensinamento de Jeronymo Soares Babém arbosa, gramático do século 19, sobre as etapas da evolução da comunicação humana). 
             Segundo a antropóloga Rose Marie Muraro, num excelente estudo, intitulado Breve Introdução Histórica, inserto nas páginas iniciais do livro ‘O Martelo das Feiticeiras’, 16ª ed. Ed. Rosa dos Tempos, Rio de Janeiro, 2002, dos inquisidores medievais Heinrich Krammer e James Sprenger, o homem habita a Terra há dois milhões de anos. Já a escrita, como a entendemos hoje, existe há, mais ou menos, cerca de três mil e quinhentos a quatro mil anos. Ora, possivelmente exista ― mas eu desconheço ― algum estudo que compare o desenvolvimento do ser humano antes e depois da escrita. No entanto, tenho para mim que deve haver uma distância geométrica entre todo o período de evolução pré-histórica e a histórica.  Em outras palavras, o que a Humanidade evoluiu nos quase três a quatro mil anos da escrita é absurdamente superior a todo o período sem escrita. Ou seja, quando foi possível armazenar pormenorizadamente, através da escrita, o conhecimento, a evolução deslanchou infrene.                                                 
           Também não conheço nenhum estudo que hierarquize as palavras, pela importância de cada classe gramatical.  De fato, todas nos são indispensáveis e extremamente úteis. Todavia, sem desprezar qualquer das classes, principalmente os pronomes pessoais ou as interjeições ― que disputam o privilégio de serem as primeiras palavras faladas, segundo alguns autores ― creio que dá para perceber certa nobreza em determinadas delas, como o substantivo, o verbo, o adjetivo e o advérbio.  A ideia aqui é discorrer sobre alguns empregos dois principais súditos dos reinos do discurso: os nobres adjetivo e advérbio.

REINOS DO DISCURSO  
       
            Todos sabemos que, no campo do discurso, em relação ao conjunto das palavras ─ ou, se preferir, à estrutura física basilar ─, há dois reinos bem definidos, com seus monarcas indiscutíveis: o das substâncias e qualidades, cujo rei é o substantivo;  e o dos acontecimentos, cujo rei é o verbo.                
         Substância é qualquer espécie de matéria, algo que subsiste por si mesmo, independentemente da imaginação   do Homem. As substâncias são captadas, basicamente, pelos órgãos de sentido; são ponderáveis (tangíveis ou intangíveis ― nesse segundo caso, muitas vezes excluindo-se parcialmente o tato, em relação à possibilidade de manuseio: o vento, por exemplo, não o retemos nas mãos, mas o sentimos na pele) e naturalmente contáveis. Os substantivos que as designam são os concretos.                       
           Já as qualidades são perceptíveis pelas impressões, não são ponderáveis nem contáveis. Assim é que uma pintura artística, um quadro, por exemplo, é tangível e contável (mesmo sendo ser único), mas a beleza que há nela somente nossas impressões conseguem ordená-la em nosso cérebro, ou seja, algo abstrato,  incontável e dificílimo até de explicar para outro ser, o qual necessariamente terá outras impressões.  As qualidades são, pois, designadas pelos substantivos abstratos.                                                                
          No reino das substâncias e qualidades, o rei absoluto (sim, há monarquia absoluta nos dois reinos) é o substantivo, o nome de todos os seres, coisas e qualidades.  No reino dos acontecimentos, o rei absoluto é o verbo.

OS SÚDITOS DO REI SUBSTANTIVO – OS DETERMINANTES

  O substantivo, esse poderoso monarca, dispõe de quatro súditos fiéis ― adjetivo, artigo, numeral e pronome ―, que o acompanham em gênero e número, fenômeno a que chamamos concordância nominal.             Dentre esses quatro auxiliares, aquele que pertence à nobreza é o adjetivo. Para se perceber a importância do adjetivo, mesmo sempre submisso a seu rei, basta dizer que ele não atua constantemente como determinante do substantivo. Defino determinante como aquele súdito cuja finalidade é especificar ─ talvez se diga melhor confirmar, corroborar ─ certas características atribuídas aos substantivos.                              Para esclarecer melhor, peguemos os substantivos assexuados. Ora, gênero é uma categoria gramatical própria dos substantivos.  No entanto, gênero só deveria existir para os seres sexuados. Ou seja, o substantivo será enquadrado como masculino se representar ser do sexo masculino; será do gênero feminino se representar ser do sexo feminino.  Atribuir, portanto, gênero masculino ou feminino a qualquer substantivo que represente ser assexuado beira ao ilógico.                                                                                        No entanto, os humanos somos seres comparativos e, no caso da nossa língua, nosso espírito lusófono-lusógrafo (com perdão desse neologismo lusógrafo, aquele que escreve em português) se encarregou de atribuir um desses gêneros aos seres assexuados também. Mas tal escolha e definição foi absolutamente aleatória, sem qualquer critério pré-definido. Assim, estabeleceu-se que cadeira, mesa, máquina, etc. são substantivos femininos; e que armário, lápis, computador, etc. são masculinos.

NEM SEMPRE FOI ASSIM

            Como a definição de gênero de substantivos que representam seres assexuados é aleatória, há sempre possibilidade de variação ao longo do percurso histórico da nossa língua. Assim, mapa, planeta, fim, êxtase, cometa, estratagema, sínodo, todos masculinos atualmente, já foram femininos. É mesmo até muito difícil imaginar que alguém, num passado remoto, tenha usado A mapa, A planeta, etc.                              Para contrabalançar, aleluia, árvore, bagagem, base, coragem, frase, homenagem, linguagem, origem, pirâmide, todas femininas, já foram masculinas. Difícil aceitar O árvore, mas já foi assim.              Fantasma, metamorfose, personagem, cisma, torrente, tribo, diadema eram usadas ora como masculinas, ora como femininas pelos autores. Hoje, algumas são masculinas (fantasma e diadema), outras femininas. Cisma, quando tem o sentido de divisão, de rompimento, é masculino; com o sentido de ideia fixa, mania, é feminino. 
            Pois bem, aqui entra o papel daquelas palavrinhas às quais estou chamando determinantes, que é simplesmente confirmar essa escolha feita pelo espírito humano lusófono-lusógrafo. Assim, se definimos que tal substantivo assexuado é feminino, o determinante artigo, por exemplo, obrigatoriamente ratifica essa definição. Por isso, a cadeira, a mesa, a máquina, etc. Essa mesma atuação corroborativa dos artigos ocorre com os pronomes e numerais.                                  
            Esse papel dos determinantes é tão fundamental nessa confirmação que, se eles não acompanharem o substantivo assexuado, esse necessariamente passa a ter gênero neutro.  É por isso que fazemos concordâncias nominais como

“É PROIBIDO ENTRADA”                                                                                                                 “CLARA DE OVO É BOM PARA FAZER BOLO”                                                                            “CERVEJA É ÓTIMO COMO DIURÉTICO”

                  
nas quais os substantivos ENTRADA, CLARA e CERVEJA, por não virem acompanhados de determinantes,  estão na sua forma pura, sem gênero gramatical e, portanto, neutros.  Em todas as frases acima, o adjetivo está no gênero neutro (semelhante ao masculino) porque o substantivo com o qual ele tem de concordar também é neutro. Se usarmos um determinante para confirmar o gênero escolhido pelo espírito humano lusófono-lusógrafo para os substantivos acima, aí outra concordância se fará:

“É PROIBIDA A ENTRADA”                                                                                                                 “ACLARA  DE  OVO  É  BOA  PARA   FAZER  BOLO ”                                                                       "ACERVEJA É ÓTIMA COMO DIURÉTICO”
                                   
            Em todas essas, o gênero foi corroborado pelos determinantes e, por isso, nelas o adjetivo assume a forma da concordância regular (ou seja, palavra com palavra, como ocorre com os neutros também).                                                                                                                                            Desse papel determinante do artigo, do numeral e do pronome, o adjetivo, pela sua nobreza, é naturalmente dispensado; todavia, às vezes, por falta de um dos três, ele o desempenha, como ocorre no cartaz ‘ENTRADA PROIBIDA’ afixado numa porta qualquer, em que ele confirma o gênero feminino do substantivo ENTRADA.
ADJETIVOS DETERMINATIVO, RESTRITIVO e EXPLICATIVO
            De fato, adjetivo propriamente dito é um hiperônimo dentro do qual se encaixam os hipônimos artigo, numeral e pronome, além do próprio adjetivo.  Ou seja, todos os súditos do rei substantivo são chamados adjetivos.        

OBS.:  Hiperônimo é o substantivo mais genérico dentro do qual se encaixam outros da mesma espécie, porém mais específicos. Assim, por exemplo, móvel é hiperônimo para mesa, cadeira, sofá, armário, etc., que são seus hipônimos, nomes específicos que se encaixam num nome genérico. 

         Nesse sentido, adjetivos representados, por exemplo, pelos determinantes, colocados sempre antes dos substantivos, não os qualificam distintivamente, mas apenas indicam definição, indefinição, quantidade ou qualidade.                                                                                                    
          Por exemplo, na frase DOIS DE MEUS PRIMOS DE PARIS VIAJAM MUITO, o elemento DOIS refere-se a PRIMOS apenas como quantidade; já MEUS indica a qualidade indicativa de posse.  São meros adjetivos determinativos, chamados em gramática de numeral e pronome possessivo, respectivamente.                                                                                                                                                    Já aos adjetivos restritivo e explicativo lhes cabe papel mais importante.  O primeiro, restritivo, além de qualificar o substantivo, distingue-o de outros substantivos da mesma espécie. Na frase acima, a locução adjetiva DE PARIS (parisienses) qualifica e distingue PRIMOS de outros primos.                                                E o adjetivo explicativo funciona como uma espécie de epíteto não distintivo do substantivo. É o que ocorre com o adjetivo frio referindo-se a gelo; ou com escuro referindo-se a noite. Não há distinção: todo gelo é necessariamente frio; toda noite é necessariamente escura.      
SUA MAJESTADE, O VERBO, O REI DOS ACONTECIMENTOS, E SUA ALTEZA, O ADVÉRBIO
            No reino dos acontecimentos, o rei absoluto é o verbo, palavra que indica o fato principal na cadeia de comunicação. Seu súdito é o advérbio, do qual falaremos a seguir. Ao advérbio coube o papel da representação das circunstâncias. Circunstância é o acontecimento secundário que acompanha o acontecimento principal, aplicando-lhe uma espécie de contexto. Ou seja, circunstância também é acontecimento, só que secundário.                                                                       Assim, “chover” é um acontecimento, mas em “Sempre chove muito em Ubatuba” já há um acontecimento principal (“chover”) acompanhado de três acontecimentos secundários (tempo, “sempre”; intensidade, “muito”, e lugar “em Ubatuba”). Advérbios, portanto, de tempo, de intensidade e de lugar.

O QUE DIZ UM MESTRE

            Jeronymo Soares Barbosa, na ‘Grammatica Philosophica da Lingua Portugueza’, 4.ª ed, Lisboa, 1866, passa a impressão de que trata o advérbio como palavra de menor importância. Mas é só impressão. Assim ele o define:
“Adverbio não é outra coisa mais do que uma reducção ou expressão abreviada da preposição com seu complemento em uma só palavra indeclinável.”  (p. 222)
            E, alegando querer evitar confusões em relação ao advérbio propriamente dito, distinguindo-o de ‘nomes adverbiados’ e de ‘expressões ou fórmulas adverbiais’, já que ele se mantém na posição de que advérbio necessariamente é palavra única e invariável, insiste que:
“O adverbio é uma reducção da preposição com seu complemento em uma só palavra, e essa invariavel, e sem outro uso na lingua. Por exemplo, o adverbio aqui comprehende em si a preposição em, e o seu complemento é este logar, como se dissessemos: n’este logar ” (p. 223)
OBS.: “Nomes adverbiados”, para esse autor, é o adjetivo que, na sua forma neutra (parecida com o masculino), é empregado como advérbio: “Certo perdeste o senso!”.  Nessa frase, o adjetivo CERTO equivale a CERTAMENTE. É, pois, um nome adverbiado.
“Expressões ou fórmulas adverbiais”: peguemos a expressão às cegas. O autor a denomina expressão adverbial porque, ao contrário do advérbio ‘cegamente’, ela traz oculto um substantivo que faz parte da expressão toda: “às apalpadelas cegas”. Suprimiu-se o substantivo e o restante é chamado de expressão adverbial.  Atualmente não passa de uma locução adverbial, no caso, de modo.  

USOS E ABUSOS DO ADVÉRBIO

            Tenho dito nos vários artigos que produzi para esta Revista que língua é um sistema nada preso a regras, ou seja, paradoxalmente, um sistema quase assistemático.  Ela, como ser vivo, depende muito dos usos e costumes, elementos que realmente estabelecem as normas gramaticais. Então, é comum o próprio professor de língua portuguesa ficar confuso em determinadas situações de emprego de certas palavras, incapaz de enquadrá-las no quadro geral das dez funções sintáticas.                                                                                                                            

OBS.: Função é o papel que um ser desempenha em relação a outros seres. No caso das palavras, elas desempenham dez funções sintáticas: sujeito, predicado, predicativo, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal, agente da passiva, adjunto adverbial, adjunto adnominal e aposto.  

          O advérbio é mestre nessa variação de usos na língua. Alguns advérbios saltam feito milho de pipoca de um emprego para outro, mas sempre acabam se encaixando tão bem em novas circunstâncias ou até noutros usos, expressando muito bem aquilo que era a intenção do usuário da língua. Aqui, darei uma amostra, meio que aleatoriamente, de alguns desses usos.

1       = MAS – ou seja, o utente da língua pega o advérbio e o transforma numa conjunção adversativa:  “Ela sempre trabalhou; o irmão nem pensa nisso!”.
2      DEPOIS = ALÉM DO MAIS; POR OUTRO LADO: “Eu não queria; depois já era tarde mesmo!”.
3        = EXPLETIVO: “Eu sei o que digo!”,  “Ouve e fique quieto.”
4      = EXPLETIVO: “Isso é verdade!”, “E eu sei disso!”

OBS.: Expletivo é palavra ou partícula usada apenas para dar realce, ênfase, sem qualquer função sintática. Quando digo “Nossa! Olha só o que aconteceu aqui!”, esse “só” é elemento reforçativo, sem função sintática. A mesma coisa ocorre com a expressão “É QUE” em “Ele é que cometeu tais erros!”. Em ambos os casos, se o falante não quisesse expressar a ênfase, as duas expressões não seriam empregadas.

5      MUITO (precedido de QUANDO) = E OLHE LÁ:  “Essa garota tem uns dezessete anos, quando   muito!”
6            MAIS = E: “Estava o Paulo mais a esposa” (Esse é um uso nordestino)
)             ALI = INDEFINIÇÃO DE TEMPO: “Ali por janeiro, refaremos os cálculos.”
  OUTROS CASOS CURIOSOS

            Haveria muitos outros casos a colocar, mas o espaço é restrito. No entanto, é preciso destacar alguns poucos casos curiosos. Um desses casos é com o advérbio NÃO.  Em determinadas frases, ele aparece repetido, reforçando a negação:


─ Você viu aquele filme? 
Não vi, não.

            A impressão que se tem é que, para o produtor da frase, às vezes, o NÃO está desgastado para as negativas e ele o reforça, repetindo-o, como no exemplo acima. É fenômeno, no entanto, típico da fala.                                                                                                                                                   
OBS: Só como adendo, um caso curioso no Brasil é também o emprego do verbo como advérbio de afirmação (equivalente a SIM), formando o que se chama eco:

─ Você viu aquele filme?  
─ Vi.
                                                                                                                                         
            Outro emprego curioso do advérbio NÃO é como elemento afirmativo, situação em que ele vira um expletivo ― elemento enfático. Isso ocorre principalmente em frases exclamativas, nas quais o produtor delas extravasa seu inconformismo. Veja:
                        “Quantas pessoas NÃO morreram nas várias guerras mundiais!”

            Ao contrário, essa frase, que não é negativa, corresponde à afirmação enfática e exclamativa de que muitas pessoas morreram durante as várias guerras mundiais.  E nem vou falar neste artigo do POIS NÃO e do POIS SIM, já tão discutidos por outros.
O ADVÉRBIO “AÍ” COMO MULETA DA INSEGURANÇA
            O verdadeiro motivo de eu ter produzido este artigo está no fato de eu ser um contumaz ouvinte de rádio. Mais que isso: um viciado ouvinte de rádio. Como tal, vou sentindo as transformações da fala dos locutores ao longo dos anos, pois meu vício vem desde a longínqua Copa do Mundo de 1958.                                  Nos últimos dez a quinze anos, sempre que um radialista tem pouca certeza dos argumentos do seu discurso, ou pouco conhecimento de determinado assunto e se mete a comentar, ele se escora na muleta do . Então, começam a surgir coisas desagradáveis como:
                        “Espero que o governo tome suas providências”                                                           “Até o momento o governo não apresentou qualquer explicação coerente para o vultoso prejuízo da Petrobras.”                                                                                                                                 
 “Voltou a chover e voltou a esperança de aumentar o índice do Cantareira...”                         
“Vai esfriar novamente e vamos sentir um friozinho para amenizar esse calor constante.”  

            Nas duas primeiras frases, o não recupera nenhum lugar ou argumento anterior citado.  É apenas a expressão de falta de segurança de alguém que não se julga preparado para expor uma opinião com firmeza.                                                                                                                                           
          Nas duas últimas, transcrevi a fala de um rapaz que fornece informações sobre o tempo numa rádio de São Paulo. O que ele usa também não recupera lugar ou argumento algum nem indica consequência ou conclusão. É vício e mesmo da insegurança. Nos dois casos, é a tal muleta, principalmente de falantes titubeantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Longe de mim querer esgotar assunto tão palpitante. Foi apenas ligeira amostra das possibilidades da língua, quando ela é explorada nos seus aspectos emocionais e espontâneos, principalmente na fala. O VOLP atual, de 2009, diz apresentar cerca de trezentos e cinquenta mil vocábulos. E todos eles se encaixam numa das dez classes de palavras, cada uma com sua finalidade.                                                             Sim, as palavras apresentam finalidade. Assim, o substantivo foi criado com o intuito de nomear seres, qualidades e coisas; o verbo indica os acontecimentos; as preposições e as conjunções nasceram com a finalidade de conectar e estabelecer relações, etc.                                           
           Todavia, o espírito humano acaba deslocando as palavras de suas finalidades iniciais e lhes dão outras aplicações. Com isso, criam estilos e formas diferentes e até inusitadas de expressão, enriquecendo a língua. Quando isso ocorre com grandes literatos, somos presenteados com obras-primas que nos deleitam. Só nos resta agradecer, curtir os presentes desses artistas das palavras e devorá-los.

*Prof. Leo Ricino – mestre em Comunicação e Letras, professor na Fecap – Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado e instrutor na Universidade Corporativa Ernst & Young.


terça-feira, 13 de maio de 2014

DICAS DE REDAÇÃO PARA O ENEM
REDIGIR – do latim redigere ‘reunir, juntar, reconduzir, fazer entrar de novo’.

Bem chegamos ao bicho-papão do Enem. A tão temida redação.
Escrever bem, assim como criar, é considerado por muitos, privilégio de poucos. No entanto redigir com propriedade é uma habilidade que pode e deve ser exercitada e desenvolvida. Portanto antes de abordarmos os aspectos técnicos da prova de redação do Enem, vamos aguçar em você o desejo de se tornar um escritor compulsivo.
Cônscios de que só se escreve bem lendo e escrevendo, e de que o prazer de criar a poucas coisas se equipara, vamos a princípio apresentar práticas para que v

DICAS DO ENEM

COMO SE DAR BEM NA REDAÇÃO DO ENEM

terça-feira, 29 de abril de 2014

O EU LÍRICO

OU

NOTA DE ESCLARECIMENTO
Cláudia S. Coelho*


EU LÍRICO 0001


Lutar com palavras
É a luta mais vã.

Carlos Drummond de Andrade

Concordo com Drummond em gênero , número e grau.


Sim, as palavras, assim como as ideias, vêm, vão, e nada nem ninguém consegue detê-las. Elas assumem corpo, identidade e chegam a se apropriar de quem as usa – em especial, escritores, escritores, compositores... todos que fazem dela sua matéria-prima.

É preciso, no entanto, discernir o criador da criatura; o autor da obra.

Exatamente por isso decidi escrever esta nota de esclarecimento sobre o Eu Lírico.

Meses atrás postei o poema Cosmopo-vita  - ou Diálogo com o Vazio [cuja versão reduzida segue abaixo], o qual deu margem a tamanha controvérsia, a ponto de ter recebido uma enxurrada de e-mail de alguns conhecidos com o telefone de contato de seus psiquiatras. A polêmica chegou a tal ponto que me vi obrigada a escrever esta Nota de Esclarecimento:

-Não! Não estou deprimida! Introspectiva, talvez. Quiça meu Eu Lírico!  
A confusão entre narrador e autor, em especial em textos poéticos, é tamanha que por eu usar, por vezes, português castiço em meus textos, alguns de meus leitores acreditam que eu seja da “terrinha”, uma autêntica portuguesa.

O início desse poema nasceu há muito tempo e foi resgatado durante minha mudança – mudança de casa, mudança de vida, mudança... Ele estava em um caderninho de anotações junto a meus guardados e, por obra do mero acaso, aberto nas páginas abaixo. O texto, a princípio, tinha como foco uma bailarina, mas ao lê-lo, em outro momento de vida, optei por usá-lo como exercício, criando um Eu Lírico que se valesse de palavras que rimassem, fizessem sentido, gerassem tensão e se transformassem em imagens. Simples assim.

BOX – ESBOÇO DE COSMOPO-VITA


EU LÍRICO 0002

esboço de Cosmopo-Vita

COSMOPO-VITA OU DIÁLOGO COM O VAZIO
(na íntegra em http://ritualdoalimento.blogspot.com.br/2013/07/09-de-julho-cosmopo-vida.html)

Na ressaca do sono,
de noites perdidas,
tento, intento,
acercar-me de ti.

Vagando ao acaso,
no brilho do ocaso,
te testo, incesto,
Replicas por fim:

Sou o amor momento,
mero alento,
fugaz sentimento
sem nenhum intento...

Encontro fortuito,
sem qualquer intuito,
o Nada em si,
simples assim. 



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O que leva à pergunta:

- Mas afinal o que é o Eu Lírico? Tão descerrado; tão pouco compreendido.

Primeiramente um pouco de história.

O termo “lírico”, tem origem no latim, lyrìcus,a,um, de lyra,ae ou lira  - instrumento musical. Na antiguidade referia-se a uma composição poética para ser cantada com acompanhamento da lira e, por extensão de sentido, passou a definir uma obra em verso feita para canto, ou própria para ser musicada. Com a chegada do século XV, a palavra poética passou a ser declamada e afastou-se do som lírico, mas o termo continuou a ser ligado à produção literária, em especial à poética.

Voltando ao Eu Lírico – também chamado de eu Poético – este é o “eu” que fala no texto e não expressa, necessariamente, os sentimentos do autor, mas, sim, os do Eu Poético. Ele é a “voz” que fala no poema ou texto em prosa e expressa ideias, emoções, pensamentos, vivências... que podem coincidir ou não com as do escritor. A validade estética de um texto independe de ele representar ou não a verdade do autor. O autor é, portanto, livre para usar sua criatividade para ser quem ou o quê queira representar e para transformar a realidade da forma que lhe aprouver.

Sábias são as palavras do crítico Yves Stalloni, quanto à concepção do eu Lírico:

[...] O lirismo é a emanação de um eu – que o romantismo gostava de confundir com a pessoa dopoeta, mas que pode se apagar por detrás de uma de suas personagens.

STALLONI, Yves. Os gêneros literários. Rio de Janeiro: Difel, 2001, p.151

Portanto, o Eu Lírico que escolhi fala por mim, mas não representa quem Sou, como estou e reitero:


No entanto, cabe aqui uma ressalva, dificilmente alguém conseguirá escrever, falar, se expressar com propriedade sobre tristeza, amor, decepção sem nunca ter experienciado tais sentimentos, muito embora não seja preciso ter sido violentado para escrever a respeito da dor do estupro – o primordial é sentir empatia pelas pessoas que o foram, conseguir sentir na alma sua comoção, pesar, para não se tornar mero narrador de um discurso vazio - pois, como afirmou Fernando Pessoa – o poeta multifacetado, cujos heterônimos podem ser considerados diferentes eu Líricos -, em seu poema “Autopsicografia”: 

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O poeta é um fingidor. 
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
















Para conseguir se expressar com veracidade a maior parte dos escritores, atores, bailarinos artistas enfim, usam um recurso chamado “resgate”.

Usando como exemplo mais uma vez o estupro, o artista “mergulha” na personagem e “resgata” em sua memória afetiva momentos em que tenha sido violado em seus princípios e transpõe a intensidade dessa dor para seu Eu Lírico ou Poético.

Infelizmente, por desconhecimento, alguns não discriminam o ator da personagem; o autor do texto; o poeta do sofrimento. O que seria de Anthony Hopkins se ele tivesse em si Hannibal Lecter, o psicopata brilhantemente interpretado no filme “O Silêncio dos Inocentes”? Um ser sem qualquer traço de consciência. De Carlos Drummond de Andrade se fosse a própria encarnação de José, o foco de um de seus poemas? Um homem perdido; sem eira nem beira?

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Dizem que a vida imita a arte - que a arte imita a vida. Tanto faz, uma não vive sem a outra, uma não invalida a outra.

Artistas, de modo geral, são pessoas intensas que observam o mundo sob uma ótica distinta, taxados, por vezes, de modo pejorativo, como excêntricos.

Sua visão de mundo não condiz com a da sociedade do espetáculo, do hiperprazer, do hipermomento, do hipernada, do hipertudo – tão fugaz, tão efêmera - e esta às vezes, incomoda, toca a ferida, cutuca a casa de marimbondos dormente em nosso interior.

Vivemos na sociedade do “Vamos em frente que atrás vem gente!”, do “Cada um por si, Deus por todos”, da “Ausência e da Aparência” (ou da felicidade sem lembranças) – na Era do Vazio.

Não digo com isso que devamos nos deixar levar pela depressão, pelo negativismo, mas, sim, ter uma visão crítica de nosso momento. Caso contrário, os filhos, dos filhos, de nossos filhos, continuarão a viver um jogo de gato e rato, um jogo de aparências no qual - parafraseando José Saramago: “Viverão em uma espécie de Luna Park”, na “Caverna de Platão” vislumbrando, quando muito, parcas imagens da realidade, presos pelos grilhões do imediatismo, da ostentação, da tirania do cotidiano, da ilusão hedonista.

- Não! Não estou deprimida. Só desejo manter-me lúcida perante à sociedade do espetáculo.

Atenta e afastada do hiperuniverso que nos abarca e faz sofrer.

Quero, como já disse, ser íntegra comigo mesma. Minuto após minuto, dia após dia, sempre.

E nada mais apropriado do que uma citação de Fernando Pessoa para mostrar que o vazio não é uma invenção do homem contemporâneo:

“Com uma tal falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar seus amigos, ou quando menos, seus companheiros de espírito?”.

Por fim, proponho a seguinte reflexão: “Não seria a versão hipercontemporânea do Eu Lírico o "Eu Digital" - um perfil elaborado, colocado nas redes sociais, nos sites de relacionamentos... espaços onde temos liberdade para criar  uma "persona ideal" - ser quem queremos, como queremos, quando queremos - em consonância com o que imaginamos se espera de nós -  e "vender" essa imagem sem nos expormos, sem nos revelarmos, sem correr o risco de que alguém bata à nossa porta e vislumbre nosso verdadeiro Eu?  

PS:  Acabei de receber uma mensagem vinda de um hospital bibliotecário, encaminhada pelo Eu Lírico - meu conhecido de longa data. Agonizante, ele afirma temer ser
substituído em todas instâncias pelo "Eu Digital" e estar prestes a editar sua Nota de Falecimento. 

Tomada, portanto, por sua dor decidi criar a campanha: "Salve o Eu Lírico", da qual para participar basta escrever, pensar, criar.  




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O pensar do artista




HIPERLINK 1 – CURIOSIDADE
ESTÁTUA DE DRUMMOND NA ORLA DE COPACABANA, UMA HOMENAGEM DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO AO CENTENÁRIO DO POETA.
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Quem passa todo os dias pelo calçadão de Copacabana, nas imediações do Posto 6, no Rio de Janeiro, já se acostumou com a silhueta de um velhinho que desde que ali chegou, nos idos de 30 de outubro de 2002, nunca mais abandonou a postura circunspecta e contemplativa.
A Estátua de Carlos Drummond de Andrade, imortalizado pelas mãos do mineiro Leo Santana, foi lavrada em bronze com tal maestria que hoje é um verdadeiro chamariz de turistas e curiosos. É comum ver filas de pessoas que ao lado dela se sentam para tirar fotos, conversar, ou simplesmente olhar a paisagem fazendo companhia ao taciturno poeta.
Às vésperas de sua inauguração, quando ainda estava envolta em plástico da cabeça aos pés, ocorreu um fato curioso: policiais do 19º BPM chegaram a abrir chamada via rádio sobre a localização de um indivíduo possivelmente asfixiado, confundindo a estátua do poeta com a vítima de um crime.

HIPERLINK 2 – YVES STALLONI
CONHEÇA
Yves Stalloni é professor de letras modernas, doutor em letras e leciona na Universidade de Toulon, na França. É autor de várias obras sobre metodologia e crítica literária.

HIPERLINK 3 - FERNANDO PESSOA

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SAIBA MAIS

Fernando Pessoa (1888 – 1935)
Um dos maiores expoentes da Literatura Portuguesa, desdobrou-se, como poeta, em múltiplas personalidades ou heterônimos: Álvaro de Campos, Ricardo Reis,
Alberto Caieiras e Bernardo Soares.

HIPERLINK 4 - JOSÉ

E agora José?
A festa acabou,
A luz apagou,
O povo sumiu...
Está sem mulher,
Está sem discurso...
Tudo acabou,
Tudo fugiu
(fragmento de “José”, Carlos Drummond de Andrade. São Paulo: Companhia das Letras, 2012)

HIPERLINK 5 – A ERA DO VAZIO
CONCEITO
A expressão “A Era do Vazio” foi
cunhada pelo filósofo francês,
Gilles Lipovetsky em 1983, ao
publicar o livro homônimo, no qual
afirma que na sociedade contemporânea
o desejo e escolhas pessoais são
cada vez mais valorizados em detrimento
do outro, da comunidade.